Associação Atlética São Paulo

Pioneira nos Esportes

Cisões que ocorreram no seio do clube de Regatas São Paulo fizeram nascerem dois clubes: o primeiro foi o Clube de Regatas Tietê, em 1907; posteriormente, a Associação Atlética São Paulo. A concentração de poderes de seu Presidente e de seus colaboradores entrava sempre em rota de colisão com a impetuosidade e o comportamento voluntarioso, às vezes exacerbado, das novas gerações de associados e de remadores que o clube ia incorporando a cada ano.

A última dessas divergências decretou o fim do C. R. São Paulo e, conseqüentemente, causou o aparecimento de outra agremiação, a Associação Atlética São Paulo. Foi uma dissidência que teve como protagonistas, de um Aldo, o jovem estudante e popular remador Luiz de Araripe Sucupira e, de outro, o Presidente Alberto de Menezes Borba e o secretario geral, Raphael Gomes Ribeiro.

A radicalização dessa disputa foi tão grande e deve ter causado tamanha insatisfação ao presidente e no próprio âmago da Diretoria do C. R. São Paulo que a única solução foi o encerramento das atividades que aquela associação desenvolvia desde 1903, quando foi comprada a Chácara Floresta.

Os fatos que provocaram a disputa ocorreram em novembro de 1913 e o desenlace foi intempestivo. Geralmente, quando um clube se extingue, seu fim é a conseqüência de um processo de degradação gradativa que o leva até um melancólico desaparecimento. No caso do Regatas São Paulo, tal fato não deve ter ocorrido; numa edição de O Estado de São Paulo, noticiaram-se festejos animados, com uma programação esportiva e outra social muito intensa, publicada menos de um mês antes do encerramento das atividades daquela agremiação.

Em 1913, a Chácara Floresta já não era mais propriedade privada; por uma negociação ocorrida no ano anterior, o município havia comprado, por duzentos e cinqüenta contos de reis, a propriedade de Alberto Borba e Frederico Steidel. O prefeito da ocasião era o Barão de Duprat. Extinguir o Regatas não foi formalmente tão difícil assim. Após 1912, os clubes alojados naquela área, isto é, o C.R. S. Paulo e A. A. Palmeiras não pagavam mais impostos e desfrutavam daquele espaço graciosamente.

Várias associações se candidataram ao espaço que estava sendo liberado, bem como à flotilha de barcos e às instalações construídas pela agremiação que acabava de encerrar suas atividades. Entre vários pretendentes, Alberto Borba decidiu-se pelo C. R. Tietê, ironicamente formado por uma dissidência do próprio C. R. São Paulo sete anos antes. Obviamente, o grupo de associados, liderados por Luiz de Araripe Sucupira, partiu para a fundação de uma outra agremiação, já que eles seriam os últimos na lista de preferência para continuar no próprio local.

Esse grupo de associados dissidentes era formado pelo próprio Luiz de Araripe Sucupira, os irmãos Ernani, Raul e Minervina Macedo de Carvalho, Carlos Lemcke, Virgilio Lion, Rodolpho Maerz, Heitor Sanches, Renato e Max de Barros Erhart e outros. Eles tiveram que procurar outro lugar para desenvolver suas atividades sociais e esportivas. Foi assim que nasceu a Associação Atlética São Paulo, cuja denominação lembrava a agremiação da qual era originária.

Embora as questões que provocaram o nascimento da Atlética tivessem ocorrido algum tempo antes, sua assembléia de fundação só foi realizada em 26 de julho de 1914. Em 3 de agosto, foram aprovados os estatutos e, no dia 7 do mesmo mês, eleita a primeira diretoria atleticana, que tinha a seguinte composição: Presidente, J. de Freitas Valle (que logo depois renunciaria em função de afazeres políticos, tendo sido substituído pelo vice-presidente); vice-presidente, Antonio Teixeira Leite; secretario, Ernani Macedo de Carvalho; tesoureiro, Carlos de Souza Pereira.

Nota-se que era parcialmente mantido o mesmo perfil dos associados do ex- C. R. São Paulo, com predomínio de sobrenomes de estirpes paulistanas e de alguns “quatrocentões”, que continuaram integrando os corpos associativos e diretivos da recém criada agremiação.

Restava, porém, encontrar um local para as reuniões dos associados. De imediato, foi alugada uma sede no centro da cidade. Estava, entretanto, comprovada, pela história de outros clubes, que era difícil a sobrevivência de qualquer um deles sem o rio Tietê. Longe de suas águas, faltava motivação para a freqüência, para participar das atividades sociais ou esportivas. Foi o que levou ao fechamento da sede logo depois.

A oportunidade para a continuidade da agremiação surgiu com a mudança do C. R. Tietê para a Chácara Floresta, desocupando o solar do general Couto de Magalhães, no qual havia excelentes instalações construídas pelo clube vermelhinho.

Os entendimentos foram feitos entre o então presidente da Atlética, José Luiz Flaquer, e o proprietário daquele imóvel, José Augusto de Andrade e Silva. O contrato de locação acabou sendo assinado no dia 28 de março de 1915. Percebe-se, pelo confronto de datas, um espaço de tempo de mais de um ano entre a eclosão da crise com o Clube de Regatas São Paulo e o verdadeiro inicio das atividades esportivas da coletividade atleticana.

A festa de inauguração foi retumbante. Registrou-se a presença de grandes personalidades, além de representações dos principais clubes já existentes na época, como o Tietê, o Esperia, o Ypiranga, o Germânia, a A. A. Palmeiras e personalidades do governo. A Banda da Força Pública tocava enquanto a bandeira da Atlética era hasteada pela madrinha da agremiação, Virginia Teixeira Leite.

Começava então a luta por uma flotinha de barcos, uma vez que o remo era a modalidade predominante. Nesse momento, a Atlética recebeu grande apoio do clube Esperia, que cedeu seus barcos para as regatas mais importantes. Aos poucos, essa carência foi sendo resolvida e, em 1921, a Atlética esnobava, importando um out-rigger de um estaleiro russo.

Um clube pioneiro

O tributo de ter causado a extinção do Clube de Regatas São Paulo foi resgatado pela plêiade liderada por Luiz de Araujo Sucupira, com meio século de lutas e conquistas em favor do crescimento daquela agremiação que se tornou, nos anos subseqüentes, um dos pilares do esporte paulista. 

A importância da construção da piscina da Associação Atlética São Paulo, que teve Sucupira como regente, mereceu todo um capitulo na nossa breve historia da gênese da natação paulista. A Atlética nasceu pioneira.

Também foi decorrência do fervor que dedicava a tudo em que se empenhava a compra do terreno da sede, o histórico Solar Couto de Magalhães, adquirido pela vontade exclusiva de Sucupira, e até contra o voto da maioria da diretoria administrativa na época. Essa atitude arrojada, sem dúvida, garantiu a sobrevivência do clube nas vicissitudes dos anos que se seguiram. Conquistou-a com a coragem típica de seu espírito inquieto. Em primeiro lugar ele teve de convencer o proprietário, José Augusto de Andrade e Silva; vencer a resistência de alguns membros dessa família, contrários ao negócio; finalmente, obter o numerário suficiente para pagar a entrada.

Nesse particular, apareceram outros heróis do espírito atleticano, como Maria Paschoa Chiaverini de Barros, Eugenio Sacchi e Carlos Martini, que, desinteressadamente, emprestaram a importância necessária para completar a primeira cota do compromisso assumido e a Atlética pôde adquirir o domínio do velho solar do general Couto de Magalhães, de arquitetura colonial e fortemente caracterizada pelo observatório astronômico que o seu primeiro proprietário havia instalado no topo de um pequeno torreão.

Se o clube tivesse permanecido na sua primeira sede, à rua Libero Badaró, n° 7, provavelmente não teria sobrevivido: faltaria o esporte, faltaria o rio Tietê.

Conquistas

A Atlética sempre esteve fadada ao pioneirismo. Possuiu uma das principais equipes de natação do final dos anos 20 e início dos anos 30, na qual ponteavam o extraordinário técnico Carlos de Campos Sobrinho, um dos maiores nomes da história dos esportes aquáticos do Brasil. Maria Lenk, a primeira recordista mundial, Sieglinda Lenk, Carlito Weigand e tantos outros. Parte do capitulo deste livro destinado a historia da natação pode ser considerada também como historia da Atlética.

No remo, o clube foi imbatível, com Stefano Egisto Strata, o patrão Durval Farias (o famoso Cocaína), João Ramalho (o Paraná), Alberto Pereira de Castro Jr. (o Lobé) e inúmeros heróis de gloriosas jornadas, que encheram de troféus a galeria do clube.

Informações suplementadas pelo capitulo referente ao remo, pois as conquistas atleticanas ultrapassaram os portões do próprio clube para se tornar a história do esporte de São Paulo e do próprio Brasil, notadamente por seus associados, que se transformaram em atletas olímpicos.

O pioneirismo da Associação Atlética São Paulo chegou também ao basquetebol, com a construção do primeiro ginásio coberto de São Paulo, palco de inesquecíveis disputas esportivas.

Nasceram e criaram-se na Atlética dois dos maiores jogadores da história do esporte da cesta: Ângelo Bonfietti, o Angelin, que depois foi para o Corinthians, e “Mosquito”, ambos da seleção brasileira.

A Atlética foi fundadora da maioria das federações esportivas de São Paulo, entre as quais as de Pugilismo, Esgrima, Xadrez, Voleibol, Basquetebol, Natação, Futebol de Salão e Remo (a Federação Paulista de Basquetebol, antes de conseguir uma sede própria, teve a Atlética Omo endereço).

A Associação Atlética São Paulo foi ainda uma escola de civismo, pois se transformou no pólo de aglutinamento dos esportistas que se rebelaram em 1932 contra a ditadura e lutaram, no campo de batalha, para que o país tivesse uma Constituição.

Foi ali que se transformou o Batalhão de Esportistas, que combateu durante 40 dias na frente do Mogi – Mirim. Lauro Soares, Guilherme Scahll e Dante Braidato, entre outros, participaram dessa epopéia, que é um orgulho para São Paulo.

A Associação Atlética São Paulo manteve ainda a EIM 43 (Escola de Instrução Militar), conhecida na época como “Tiro de Guerra”, que dava grande movimento ao clube. Seu comandante era o tenente Paulo Alves, outro destacado nome da história da Educação Física brasileira.

As obras de retificação do rio Tietê, se prejudicaram esperiotas e tietanos, foi madrasta com a Atlética, mais do que com seus vizinhos. Os danos foram imensos, distanciando-a do “seu” rio, uma das grandes razões de sua própria glória.

Lastreado em um grande passado, em feitos inesquecíveis, o clube ainda resiste. E precisa resistir durante muito tempo. Ele e a própria história viva do esporte paulista.

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